domingo, 24 de novembro de 2013

ESPÉCIES EXÓTICAS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - JAQUEIRAS E DRACENAS

Texto extraído do livro: "Guia de Campo do Parque Nacional da Tijuca" de Andréa Espínola de Siqueira - Rio Janeiro: UERJ/IBRAG, 2013 As espécies exóticas. O homem sempre carregou coisas que lhes fossem úteis e isso não foi diferente com as plantas e os animais. Desde a colonização espécies têm sido transportadas, intencionalmente ou não, entre os continentes ou mesmo dentro de países para áreas fora de sua distribuição geográfica original. Nesses novos ambientes muitas espécies, longe de seus predadores naturais e parasitas, encontram condições ambientais favoráveis e tornam-se mais eficientes que as nativas no uso dos recursos, tornando- se dominantes. Junto com a fragmentação do habitat, a introdução de espécies exóticas invasoras formam as duas principais causas de perda de biodiversidade e destruição de ecossistemas na maioria dos ambientes do mundo. A Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada por 175 países em 1992 durante a Rio-92, define como espécies exóticas invasoras “aquelas não nativas de um ambiente natural, que se espalham sem a assistência humana causando ameaça a ambientes naturais ou seminaturais”. Estas espécies possuem não apenas o poder de sobrevivência e adaptação em outros ambientes, mas a capacidade de dominar a diversidade biológica nativa através da alteração das características básicas dos processos ecológicos naturais e das interações. Distantes de seus ambientes naturais e livres de processos competitivos, parasitários e de predação, as espécies exóticas invasoras encontram condições favoráveis para a expansão e domínio do espaço, especialmente se este ecossistema foi ou vem sendo alterado por sucessivos processos de intervenções humanas. Quando os invasores são plantas existe um agravante em relação às demais invasões biológicas, pois os impactos causados por esses processos não são absorvidos ou amenizados com o tempo e se agravam à medida que as plantas invasoras ocupam o espaço das nativas. Entre as características de espécies exóticas invasoras estão: • Rápido crescimento; • Maturação precoce; • Grandes quantidades de sementes; • Produção de sementes durante mais de uma época no ano; • Tolerância a solos de baixa fertilidade, encharcados, áridos ou degradados; • Capacidade de interferir no ambiente ao seu redor (ex. alelopatia). Formas de entrada. As espécies exóticas invasoras (plantas ou animais) entram no ambiente de diversas formas. Algumas são introduzidas intencionalmente após estudos de manejo como, por exemplo, plantas para agricultura e pastagens, plantas ornamentais e animais utilizados para controle biológico, mas que podem fugir do controle e se comportar de maneira inesperada. Outras espécies são introduzidas apenas em cativeiros, mas acabam fugindo para o ambiente, como animais de zoológicos e de criação. Outras ainda são introduzidas de forma acidental, vindo nas fezes de pássaros, escondidas em veículos, vegetais importados ou na água de lastro, por exemplo. O caso das jaqueiras. A jaqueira, uma árvore muito conhecida popularmente, é uma espécie exótica, originária das florestas tropicais da Índia (Família Moraceae). Seu nome científico Artocarpus heterophyllus, vem do grego onde ártos significa alimento; karpós significa fruto e heterophyllus significa “diferentes folhas”, fazendo alusão às folhas com bordas inteiras na árvore adulta e recortadas nos indivíduos juvenis. A jaqueira foi introduzida durante o período da colonização sob as ordens do imperador, que exigia aos Vice-Reis da Índia que enviassem ao Brasil e África plantas de interesse para que fossem aclimatadas nas novas regiões. A espécie adaptou-se tão bem ao clima do Brasil que chegou a ser revalidada erroneamente por alguns botânicos como Artocarpus brasiliensis. O primeiro registro de A. heterophyllus sendo enviada para o Brasil data de janeiro de 1683, sendo trazida pela Nau São Francisco Xavier, contudo em 1682 já havia 11 exemplares da espécie de procedência desconhecida na Bahia. Atualmente sua distribuição no Brasil engloba praticamente todo o território nacional, sendo observada colonizando áreas abertas e de mata. A jaqueira é tolerante à sombra, necessitando de pouca luz e espaço para seu desenvolvimento, porém germina melhor em clareiras. Possui porte médio, alcançando entre 8 e 25 metros de altura, seu tronco pode ultrapassar 1 metro de diâmetro. Possui flores masculinas e femininas, que são vistas em inflorescências distintas, saindo diretamente do tronco. Seu fruto é o maior produzido em árvores, ultrapassando os 35 kg, sendo formado pelo agregado dos ovários de centenas de flores femininas, cada uma delas contendo uma semente. Uma única planta adulta pode produzir mais de 100 frutos por ano, cada um possuindo até 500 sementes, com uma taxa de germinação de aproximadamente 90%. Seus frutos são consumidos por diversos animais, incluindo aves, insetos e mamíferos. Alguns desses mamíferos, como os gambás e cutias, dispersam suas sementes auxiliando o aumento da distribuição das jaqueiras. No Brasil as jaqueiras não possuem sincronismo de frutifi- cação, sendo possível encontrar plantas com frutos praticamente o ano todo ao contrário do seu habitat de origem, onde seus frutos amadurecem entre julho e agosto. No Brasil a jaqueira está entre as principais espécies invasoras das unidades de conservação da cidade do Rio de Janeiro e em outras partes do país, ocupando extensas áreas que incluem os principais parques públicos do estado e alguns fragmentos florestais, com indivíduos em diferentes fases de crescimento. Devido ao grande porte que podem atingir, as jaqueiras demandam um trabalho diferenciado para a sua contenção. O processo chamado de anelamento ou Anel de Malpighi consiste na retirada de um anel completo da casca do caule principal da árvore. Este procedimento resulta na interrupção do fluxo de açúcares em direção à raiz, pois a retirada da casca causa a destruição dos vasos floemáticos daquela região do caule. A raiz da árvore passará a usar suas reservas de amido como fonte de carboidratos, o que resultará na morte das células radiculares, impedindo a absorção da água e nutrientes minerais para toda a árvore, causando consequentemente a sua morte. Nas áreas onde as espécies exóticas foram extraídas é feito um trabalho de replantio com as espécies nativas na região. Tenta-se fazer esse replantio o mais rápido possível, já que a maioria das plantas invasoras se prolifera rapidamente, tomando a área recém liberada em questão de poucos dias. Algumas espécies, como as jaqueiras, impedem o estabelecimento e a permanência de outras espécies na área em que elas se estabeleceram, pelo seu grande porte que difi - culta a passagem de luminosidade, enquanto outras espécies liberam substâncias químicas que impedem que outras cresçam ao seu redor. O caso das dracenas. A espécie Dracaena fragans, conhecida popularmente no Brasil como dracena, pau-d’água ou coqueiro-de-vênus (Família Ruscaceae), originária da África, é amplamente cultivada em diversas partes do mundo. Foi introduzida no país com fi ns ornamentais e tornou-se invasora em muitos locais, sendo uma das principais invasoras no Parque Nacional da Tijuca. A dracena é tolerante à sombra, necessitando de pouca luz e espaço para seu desenvolvimento, colonizando principalmente áreas de borda da mata. Possui porte arbustivo, alcançando de três a seis metros de altura, com o tronco fi no e pouco resistente, mas com elevada capacidade de brotamento. Possui grandes inflorescências, com inúmeras flores pequenas e perfumadas, de cor clara. Apresentam uma distribuição espacial agrupada e multiplicam- -se facilmente através de partes do tronco (propagação vegetativa) em qualquer época do ano. Estudos realizados na Floresta da Tijuca indicam que a espécie é altamente competitiva e agressiva, com capacidade de deslocar espécies da flora nativa e causar alterações locais, talvez devido a suas estratégias de colonização e dispersão extremamente eficientes. Para o controle dessa espécie no parque a equipe de Monitoria Ambiental atua na extração direta dos indivíduos de uma determinada área, sendo necessária a retirada total de sua biomassa, pois são observadas constantes rebrotas das plantas mesmo quando restam apenas pequenos fragmentos do processo de extração. Esse trabalho deve ser constantemente refeito já que as dracenas se proliferam muito rapidamente. Estudos ecológicos sobre a espécie ainda são escassos, o que difi - culta a execução de estratégias para seu manejo e controle.

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